segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Mania de amor, de cor e de dor

Ela tem essa mania de princesa. Teimosa, se enche de graça e se acha valente. Se tranca em seu castelo, onde pode ficar sozinha por dias, onde dança, briga, reclama, derrama rios de lágrimas e espalha roupas pelo chão. Bem no meio no meio do salão principal, tem um lustre, em que ela guarda suas melhores estrelinhas, pra que brilhem sempre perto dela, com sua magia de 48 cores aquareláveis. Lá na frente, tem um jardim, onde ela recebe as pessoas que gosta, onde ela se engraça e sorri, com um andar saltitante, ainda que, por dentro, sangre seu coração. Não, ninguém vai além do jardim. A única pessoa que ela permitiu entrar no castelo, manchou de cinza suas paredes cor-de-sol, quebrou seus cristais e a prataria. Por isso, hoje, ninguém entra lá; ela não quer perder a última flor que restou no arranjo da sala de estar. Só passará por aquelas portas, o valente que conseguir encarar o muro de pedras que ela mesma construiu, e trouxer em suas mãos pincéis e tintas suficientes para devolver a cor às suas paredes. Mas seu andar saltitante e seu sorriso intrigante não deixarão de brilhar enquanto houver o jardim, enquanto houver estrelas no lustre, enquanto viver a flor da qual ela cuida todas as manhãs. Haverá princesa enquanto existir castelo, haverá esperança enquanto existir amor.