Já parou pra reparar como um assunto puxa o outro e o primeiro não tem nada a ver com o último? E já parou pra contar sobre quantos assuntos banais vc conversou hoje?
Vocês vão almoçar e a pessoa pede um suco de uva, você diz que adora suco de uva e, então, você acabou de encontrar alguém que, como você, também adora Fanta Uva! E então, sem muito porquê, você diz que gosta de brócolis, mas a pessoa odeia berinjela. E dos legumes vocês passam pro purê de mandioca, que provavelmente é feito do mesmo jeito que o de batata, que por sinal você também não sabe fazer, mas acaba de aprender! Então você acaba o almoço e diz que tem que ir pra casa tomar banho e, de repente, vocês estão conversando sobre problemas com o chuveiro de casa. Sim, o chuveiro, aquele mesmo que você tem que abrir pouco pra ter uma miséria de água quente e uma gigante conta de energia, sem falar naquela gotinha idiota que, lá do meio das escassas gotas, insiste em cair fria. Mas enfim, o que a gota fria tem a ver com a Fanta Uva?
Tudo isso numa única conversa. Agora pare pra pensar nos tantos outros milhões de conversas que você teve num único dia, sobre a capa do trabalho de desenho e de como os desenhos se perderam, e sobre a cantorinha nova da tv, sobre o pão da padaria que custa agora quase 50 centavos, sobre o intestino que funciona com Activia ou damascos, sobre como fazer um colete com retalhos, e sobre trabalhos, e sobre aquele bife com batatas ou mesmo sobre aquela calça brega da revista e o seu vizinho gatinho.
Pra que tanta conversa? Pra onde vai tanta informação? Serão mesmo somente assuntos banais?
E quando você convidar aquela pessoa pra jantar na sua casa, vai se lembrar da Fanta Uva, ou vai ficar no mercado se perguntando se compra brócolis ou berinjela? E, na hora do aperto, vai comprar o pão da padaria ou fazer um belo purê de batatas?
Bem, não sei. Só sei que, quando meu intestino não funcionar, vou me lembrar dos damascos.
